LÁGRIMAS DE JACARÉ
A floresta era povoada por todos os animais que viviam em harmonia. Cada um tinha a sua casa do seu jeito. Os pássaros moravam nos ninhos, o tatu tinha sua casa no buraco do barranco, as vacas moravam no pasto, e o jacaré preferiu morar no rio.
E era ali que todos gostavam de viver. E todas as tardes, se reuniam debaixo de uma enorme gameleira, e era como se ali fosse uma festa. A cigarra cantava, o jabuti declamava poesia, o papagaio contava piadas, e até os grilos organizaram um coro para alegrar o ambiente. Só mesmo o jacaré, é que ficava com aquela cara sem expressão, como se não ouvisse nada. Não cantava, não falava, nem ao menos ria das piadas do papagaio.
Mas quando escurecia, todos voltavam para dormir em suas próprias casas.
Um dia, organizaram um teatro. E quando todos se divertiam com Chapeuzinho Vermelho, o lobo mau, a vovozinha, o caçador... foi que perceberam que o céu escureceu de repente. Nem deu tempo de voltarem para suas casas, porque enormes pingos de chuva começaram a cair, e em pouco tempo, uma ventania acompanhou o aguaceiro, formando um temporal. Trovões e relâmpagos assustavam a todos, que se juntaram abraçados sem ter outra coisa a fazer.
O medo era enorme... Todos ficavam encolhidos. Só o jabuti estava mais confiante, porque carrega sua casa consigo.
Quando finalmente o temporal passou, os animais procuraram suas casas, mas não encontraram. Só a do jabuti, e a do jacaré que era no rio, não tinham sido destruídas pelo temporal.
Eles se reuniram novamente, e foi a ema quem falou primeiro:
_ Que é que faremos agora sem as nossos casas?...
O jabuti disse:
_ Meus amigos, se eu pudesse, colocaria todos dentro da minha!... Mas vocês mesmos estão vendo que ela só cabe a mim... Mas eu venho lá do rio, e vi que a casa do jacaré não foi destruída. Quem sabe, nós poderemos nos abrigar lá até construirmos de novos as casas de todos!...
_ A casa do jacaré, é enorme!... É do tamanho do rio!... – disse eufórica a arara.
Só então, foi que viram que o jacaré não estava na reunião.
_ Vamos lá falar com ele!... – disse a arara, e já saiu voando na frente dos outros.
Quando chegaram, o jacaré estava na porta da sua casa, daquele jeito parado de jacaré. E a arara que estava mais entusiasmada, foi quem falou pelos outros que todos queriam passar a noite na casa dele.
O jacaré arregalou aqueles olhos de jacaré, e disse com o mau humor de jacaré mesmo:
_ Na minha casa, não!... Onde já se viu um bando desses que nem toma banho, dormir na minha casa!... Na minha casa, não!...
Todos pediram e imploraram, mas o enorme animal, ficava parado, sem a menor reação de compaixão.
E como insistiram muito, logo o jacaré que era caladão, começou a falar uns palavrões, e falou mal de todo mundo, e entrou no rio, e se escondeu.
Os bichos então voltaram e se reuniram novamente, e se abraçaram para passar a noite de frio um aquecendo o outro. Foi uma longa noite. Mas depois de uma noite assim, sempre vem o sol, e ele veio trazendo um dia lindo e claro para todos os animais. então todos se animaram, e uns ajudavam os outros, e construíram casas mais bonitas e mais fortes. E no mesmo dia, fizeram a maior festa, com muita música, muito doce, muita dança e muita alegrias.
Mas o jacaré, não foi convidado. Ficou sozinho lá no rio, com as lágrimas rolando dos olhos.
É por isso que até hoje, quando um amigo falso chora, todos dizem que ele derrama lágrimas de jacaré.
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Adelmario Sampaio
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